sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Barack Obama

Obama intactus segredum.
Nesta semana foi impensável outro foco na mídia além das eleições americanas. Seja ela nacional, internacional e até no jornaleco da esquina: lá estava Barack Obama. Com um nome singular, que se assemelha a uma potencial oração em latim ou um dialeto esquisofrênico, o nobre senador promete trazer a mudança consigo.
Beleza, a mídia caiu de amores por ele. Negro, simpático, um "semi" desconhecido do mundo. Promete mudança. Prato cheio. E ainda com o perfil "moreno, cheiroso, gostoso, da cor do pecado" , impossível resistir a tantos apelos.
Eu cá, na minha santa ingenuidade política internacional, fico assistindo de camarote. Entre uma pipoca e outra, não consigo definir o quanto de "documentário ou de ficção" é a programação da tv. Os elogios à Obama são incríveis. Se ele tivesse olhos azuis diria que era o proprio super homem. Mas me preocupa a idealização de pessoas, especialmente de políticos.
Vamos lá, um pouco de crédito ao homem. Ele tem um histórico bonito, de fazer qualquer um se emocionar, Obama encarnou e propagou "a esperança" na sua campanha político. Astucioso, sabe trabalhar com as emoções. Mas não sei se me preocupo mais com ele ou com as pessoas que acreditam nele. O negócio é dormir com um olho fechado e o outro aberto. Afinal, misterius poderis de Barack Obama. E o Barack pode sair caro.
Raquel Duarte

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Paixão de jornalista

Foto ilustrativa

Quando comecei a escrever, fui movida pela paixão. E continuo. Mas no início da faculdade, aprendi a dosar um pouco isso, a me moldar, a ter uma espécie de equilíbrio entre a realização e o tesão de escrever. Era 1995, e embora já existisse até internet, era uma ferramenta nova e começando a ser adotada nas faculdades. O computador também. Portanto assisti a fase de transição do uso das máquinas de escrever para os computadores.

As máquinas de escrever eram antigas, de ferro, esverdeadas ou cinzas. Tinham teclas pretas com letras brancas. Os teclados eram altos e esquisitos e muitas vezes duros. Mas o bacana era o som que as máquinas de escrever proporcionavam. Quando escrevíamos, todos juntos, parecíamos “um exército das palavras”.

Era fascinante, mas nada supera a tecnologia e a facilidade que a internet nos oferece hoje. Não saberia viver sem ela. Mas o que também me fascina é a paixão pelo jornalismo, que ainda reside em corações e mentes de alguns nobres profissionais.

Recentemente recebi um e-mail que relata exatamente esta paixão. Agradeço ao “Seu Pedro”, por me conceder a honra de divulgá-lo.

Raquel Duarte

As antigas máquinas de escrever notícias!

* Seu Pedro (*)*

Quando iniciei no jornalismo nem diploma para ele havia, foi em 1965, eu tinha 18 anos. Foi no Jornal do Commércio, de Manaus, e a redação usava as máquinas "Léxion 80" da Remigton Rand, fabricadas no Rio de Janeiro, na Avenida Brasil no bairro de Guadalupe. Como hoje temos que dominar conhecimento sobre as ferramentas do computador, o redator chefe daquela época nos exigia conhecer cada tecla e sua função, e os parafusos de uma máquina de datilografar. Estávamos sempre prontos para solucionar eventuais problemas que pudessem aparecer, como se fossemos /*mecanógrafos*/.

Nunca aconteciam problemas, mas sabíamos tudo, até em qual lixeira iam parar as tampas boleadas das máquinas, uma vez que preferíamos teclar sem elas para que mais rapidamente pudéssemos enrolar de volta os carretéis das fitas, com o “carinho” que dispensamos ao equipamentos, embora conseguíssemos reduzir seu tempos úteis. Para mostrar que eu dominava por completo, como era vontade do chefe, então até decorei o endereço da fábrica da Remigton.Escrevíamos o texto por encomenda de tamanho; tantas linhas x tantos toques (normalmente 72).

As fitas "acabavam no fim", rasgadas de tanto receberem as pancadas das teclas. Não fazíamos revisão no texto, isto era tarefa do revisor. Se houvesse erro na edição a culpa estava somente com ele! Não importava se fossemos datilógrafos de fazer sair “fumaça” do teclado ou se “catador de milho”, mas que déssemos conta de nossa pauta.

A redação sim tinha que ser boa, com respostas precisas aos seis itens indispensáveis a uma boa notícia; *“/o que, quem, onde, quando, como, por quê?” /*Assim quem soubesse teclar a máquina, tivesse a verve jornalística, soubesse ordenar um texto, investigar com lisura os fatos, assumisse suas responsabilidades, e tivesse ética acima de tudo, era jornalista diplomado na vida diária de uma redação; sem dificuldades! Não importávamos com diplomas, apenas com o registro profissional que nos habilitava ao exercício da profissão.

Não tínhamos o Manual de Redação e Estilo, mas procurávamos sempre acompanhar o estilo adotado pelo patrão, neste caso o da empresa “Diários Associados”.Usávamos a entrelinha espaço 03, para que o revisor pudesse escrever o correto acima de nossos erros que procurávamos evitar, mas se acontecesse não ficávamos envergonhados.

Os jornais tinham melhor qualidade em seus textos, eram até mais gostosos de serem lidos. Já não existe o tom literário, não há mais as entrelinhas que criavam o estilo pessoal de cada redator. Não era como a maioria dos jornais de hoje. Usam o método “copiar colar”. Ficam todos iguais, quem lê um leu todos!Tenho saudades, pois na redação só os que passavam do primeiro mês, e por si se “diplomassem” naquele curto espaço de tempo, é que ficavam.

Os aptos, mesmo sem diplomas eram respeitados e participavam das altas rodas. Eram “cordialmente detestados”! Uma época em mandava o governo militar de exceção.Eu, obediente às ordens emanadas do Quartel General, e naqueles anos Dom Élder Câmara, alcunhado pelo governo de “Arcebispo Vermelho”, tinha o nome proibido de ser citado em notícias, então eu o chamava de “Arcebispo Verde e Amarelo”, o que fazia com que os censores ficassem vermelhos de raiva!

Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, 61 anos, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi – Bahia, que hoje relembrou o tempo em que o repórter “dormia” na redação, para ver a filha da pauta nascer.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Quem matou Eloá?

Todos assistimos exaustivamente na tv, o caso da jovem Eloá Pimentel de 15 anos que recebeu dois tiros do namorado Lindemberg "Pirado" Fernandes Alves em Santo André, mas fica a pergunta: quem de fato foi responsável por sua morte? Depois de uma série de confusões dignas de uma "tragicomédia", a Polícia Militar (leia-se GATE*) chega a ser suspeita de, no mínimo, ter contribuído para este final fatídico. Negociação esticada demais, e fazem tudo que o cara quer e não exigem nada. Isso é a tal "psicologia" dos negociadores altamente treinados da PM? E os atiradores de Elite onde se meteram? Dizem que estavam lá, no prédio vizinho. Pra que, mero enfeite? Quantas vezes o "doidinho" não ficou com fuças à mostra na janela? Não era o alvo perfeito? Mas não, preferiram preservar a vida dele. Afinal, o que a mídia iria dizer da polícia se o jovem "sem antecedentes criminais" e pertubado emocionalmente fosse abatido? Ora, ora, seria uma mancha na imagem da polícia no Brasil, fato "inédito" neste país, é "verdade"! Tadinha da polícia! Álias, tadinha mesmo. Não sabiam se iam ou se viam. Explode bomba, sobe escada, sobe um, desce outro. E na hora de invadir então. Quanta palhaçada. Policiais carregam Eloá ferida no colo, enquanto deveria ser colocada na maca! Enquanto isso, maca sobe, maca desce, pareciam estar com a macaca! Fora isso, o médico que tentava subir as escadas parecia jogados de futebol americano, que tem que passar no meio de brutamontes. O doutor nadava contra à maré para chegar ao local do acidente! Que desespero! Confusão geral! E até agora me pergunto porque raios a amiguinha de Eloá, senhorita Nayara Rodrigues da Silva, retornou ao cativeiro. Prova de amizade? Tinha que ser loira, não é possível! Pior ainda, quem autorizou tal insanidade de Nayara? Mas, pelo menos a loirinha foi salva. E os órgãos de Eloá receberão os holofotes da imprensa por onde quer que estejam. Claro, a ação foi digna, nobre por parte da mãe da garota... A mesma senhora que deveria estar completamente louca quando permitiu o namoro de uma menina de 12 anos com o maluco Linderberg (na época com 19). Isso não é por si só, um crime? Seria ela, a mãe, a primeira responsável por tudo? Se bem posso tecer minha opinião, todos tem sua parcela de culpa. Todos mesmo. Até mesmo nós, meros e mórbidos telespectadores que assistem à tudo como se o trágico episódio fosse cápitulo de novela. Só que desta vez, lamentávelmente, sem o esperado final feliz. (*) GATE - Grupo de Ações Táticas Especiais Raquel Duarte

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Políticamente incorretos

Acontece de tudo na Campanha Eleitoral. Surgem as figuras mais esdrúxulas e com elas o "marketing político", no mínimo duvidoso. Alguns slogans merecem nosso destaque. Abaixo, alguns dos mais engraçados.
Slogans da Campanha Eleitoral

9º lugar - Guilherme Bouças, com o slogan: 'Chega de malas, vote em Bouças.'

8º lugar - Grito de guerra do candidato Lingüiça, lá de Cotia (SP). 'Lingüiça Neles!'

7º lugar - Em Descalvado (AL), tem um candidata chamada Dinha cujo slogan é: 'Tudo Pela Dinha.'

6º lugar - Em Carmo do Rio Claro, tem um candidato chamado Gê. 'Não vote em A, nem em B, nem em C; na hora H, vote em Gê.'

5º lugar - Em Hidrolândia (GO), tem um candidato chamado Pé. 'Não vote sentado, vote em Pé.'

4º lugar - E em Piraí do Sul tem um gay chamado Lady Zu. 'Aquele que dá o que promete.'

3º lugar - A cearense chamada Debora Soft, stripper e estrela de show de sexo explícito. Slogan: 'Vote com prazer!'

2º lugar - Candidato a prefeito de Aracati (CE): 'Com a minha fé e as fezes de vocês, vou ganhar a eleição.'

1º lugar - Em Mogi das Cruzes (SP), tem um candidato chamado Defunto: 'Vote em Defunto, porque político bom é político morto!'

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Tiros políticos

A campanha política esfria corações e aquece mentes. Quem dera essa alteração fosse devido à melhores propostas de governo para a população. Mas o embate reside em disputar cada eleitor à tapa, não importando os meios para atingir tais objetivos. Seria cômico, se não fosse trágico. Na campanha encontra-se de tudo: Jingles engraçados, bonecos saltitantes, militantes malucos. Mas também se encontra homens capazes ultrapassar os limites (se é que eles os têm) do bom senso. Aqui na região oeste há pelo menos três casos emblemáticos. A casa do candidato à prefeitura de Taboão da Serra, Fernando Fernandes, do PSDB, foi atingida por nove tiros na madrugada desta sexta-feira (3). Segundo divulgado na imprensa, os disparos foram feitos por homens numa moto, mas ninguém se feriu.
Em Bom Jesus de Pirapora, o carro do prefeito ( e meu ex-chefe), Raul Silveira Bueno foi atingido por dois tiros que passaram pelo pára-brisa mas não o atingiram. Em Cotia, um eleitor foi atingido por um tiro durante um comício. Vários outros casos de violência foram registrados nesta campanha. A disputa pelo poder está cada vez mais acirrada, mais destemida e desavergonhada. Absurdos e sacanagens são cometidos sem nenhum pudor. E eu que pensei que certos limites não fossem intransponíveis. Santa ingenuidade. Mas na política meu bem, ninguém é de ninguém. E quem tem..., tem medo. Isso já não é mais segredo.
Raquel Duarte

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Metendo a língua

As coisas acontecem mesmo loucamamente neste país. Enquanto o Brasil necessita de profundas mudanças na economia, política e no judiciário, resolvem reformar a língua portuguesa. Apesar do tema ter sido abordado na imprensa nesta semana, a sugestão para a alteração nas regras ortográfica é antiga. Chegou às manchetes devido a sanção do acordo pelo presidente Lula. E essa mudança não foi cogitada agora. Ela tramita desde os anos 90 e visa integrar os países que falam a língua portuguesa, ou seja, os países lusófanos. De acordo com as novas regras, as principais mudanças do "português-Brasil"ficam por conta dos acentos agudo e circunflexo, trema e hífem. No Brasil essas mudanças atingirão 0,5% da nossa regra. A adaptação acontecerá gradativamente, de 1º. de janeiro de 2009 até 2012. Se os brasileiros já eram enrolados com a propria língua, imagina depois desta reforma. Quem já tinha aprendido alguma coisa, terá que "desaprender". Que ironia. Não dá para negar que a intenção original ‘parece’ boa. Mas até agora não ficou claro como estas poucas mudanças podem resultar em benefícios. A não ser para os donos de gráficas que terão que adaptar milhões de dicionários e livros didáticos, não consigo achar graça nesta reforma. Para se ter uma idéia, estima-se que R$ 90 milhões serão gastos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) só na compra de dicionários. E pra nós, onde está a vantagem? O mais trágico é que ninguém tem interesse em debater o assunto. A consulta pública realizada pelo MEC recebeu só 12 e-mails. Brasileiro é chegado em questões polêmicas de alto grau e este assunto pareceu morno demais. Com esta reforma tímida, o português entre Brasil e Portugal não chegará a ser unificado. Mas com certeza irá dificultar a língua para quem nunca entendeu muito dela: os próprios brasileiros. Raquel Duarte

domingo, 28 de setembro de 2008

O encanto presidencial

Já eram quase sete horas. O relógio contra. Uma garoa gelada, num sábado intranqüilo. Trânsito. O mapa do google perdido na bolsa. A bolsa que cai sob o banco do carro. Faróis vermelhos. Olhares. Perguntas. Ruas atrevidas em locais impróprios. Mas lá estava eu, correndo contra o tempo para a cobertura de mais uma pauta. Raiva. O atraso não me permitiu a proximidade adequada. Mas, me encaixei na multidão, com a delicadeza natural dos desesperados e saquei da minha bolsa o bloco de anotações e uma caneta. Ufa, lá estava eu, entre dezenas de centenas de milhares...mal via meus pés, mas conseguia respirar se controlasse a ansiedade.
Quando ele surgiu no palanque (ou seria palco?) uma multidão, urrou, saltou e aplaudiu. Com bandeiras em riste, saldaram-no. Eram partidários, militantes, simpatizantes e curiosos, que como eu, assistiam a tudo.

Com um joelho ardente, recém esfolado, fiquei na ponta dos pés. De repente, uma estranha quietude. Não saberia explicar, mas a multidão que estava à instantes em alvoroço, silenciou-se e recolheu as incestuosas flâmulas partidárias para ouvir seu discurso.

Encantados, ouviam-no como quem aprecia uma orquestra pela primeira vez. Encantados, seduzidos, debruçados em seus próprios devaneios e fantasias. Sentia todas as migalhas de esperança serem recolhidas ali. Por alguns instantes deixei as anotações de lado para observar os olhares seduzidos das pessoas, quase num estranho transe. Os olhos lacrimosos entre o pranto e o gozo. Algo que não saberia distinguir com precisão.

(...) Ao final do discurso, as pessoas retornaram para suas casas. Renovadas de uma força singular. Mas não seria tão insensível a ponto de desprezar tantas percepções desta noite. Seria condizente com a notícia, acrescentar minhas deduções também. E não há como ocultar.
Por mais que critiquem que julguem e crucifiquem, é preciso reconhecer o seu mérito. O encantador de multidões estava lá, invencivelmente popular. Semeador de sonhos. Colhedor de votos. E em qualquer estação do ano. Em qualquer lugar do país. Em qualquer instante de delírio popular. E eu fui testemunha ocular de seu mistério.
Raquel Duarte

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Eleições e a mordaça da imprensa regional

É lamentável como se comporta o jornalismo regional diante das eleições. Deveríamos esperar a idoneidade dos veículos diante das informações sobre os candidatos municipais. Que nada!
Na época de campanhas eleitorais são os candidatos que tem 'grana', (para pagar a publicações de matérias e entrevistas) que comandam as redações. Afinal, são os políticos quem bancam a maioria dos jornais regionais ou são no mínimo "o alicerce" de publicidade do veículo. Quando não muito, ditam regras editoriais para os diretores das publicações. Os veículos da imprensa - ou a grande maioria deles, são totalmente comandados pelas Administrações Municipais. O abuso é tanto, que em alguns veículos, chegam a determinar quais matérias podem entrar ou não. "Sugerem" via assessoria de imprensa, quais matérias são importantes e devem constar da edição. Quando não raro, indicam quais são as Manchetes, inclusive decidindo as fotos da Capa. Amordaçados e acomodados os jornais abaixam "as calças" sem medo ou vergonha de mostrar o traseiro. E a população fica cada vez mais a mercê desta dominação política e informação manipulada. O que eu lamento, é que não é só na imprensa regional que isso acontece. Mas o que me encoraja é que ainda existem veículos que primam por um jornalismo de verdade, embora esta postura esteja quase em extinção.
Raquel Duarte

Liberdade de imprensa nas palavras do presidente

Nesta semana o tema Liberdade de Imprensa foi mais uma vez foi comentado pelo presidente Lula. Ele, que está em Nova York declarou que : "liberdade de imprensa pressupõe o aumento da responsabilidade de todos para que possamos conviver com ela".

Lula utilizou um discurso na mesma linha, quando fiéis e pastores da Igreja Universal moveram ações contra jornais e jornalistas que escreveram reportagens investigativas sobre o crescimento do patrimônio da igreja. Na ocasião o presidente Lula disse não ver nisso uma ameaça à liberdade de imprensa.

De acordo com o presidente, "liberdade de imprensa pressupõe a imprensa escrever o que quiser (...). Mas pressupõe também que a pessoa se sentir atingida vá à Justiça para provar a sua inocência. Não pode ter liberdade de imprensa se apenas um lado achar que está certo. Então, liberdade de imprensa pressupõe uma mistura de liberdade e responsabilidade. As pessoas escrevem o que querem, depois ouvem o que não querem”.

Em relação à divulgação de informações por grampo, Lula foi enfático: "Liberdade de imprensa não pode pressupor que alguém possa roubar informações e elas possam ser divulgadas sem que a pessoa que tenha roubado fique impune, porque senão você terá dois tipos de cidadãos no Brasil: um que estará subordinado à Constituição e à legislação, e um que pode tudo.

Bonitas palavras presidente, se na verdade não escondessem um “defendo a liberdade de imprensa até certo ponto”. Camuflar a liberdade de imprensa, não é justo nem honesto. Particularmente não defendo que o culpado fique impune, mas que existam órgãos competentes para tal. E com certeza, não é governo que deve ditar o que a imprensa deve ou não publicar. Isto seria um retrocesso.

Raquel Duarte

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Grampeando a liberdade de imprensa

Os recentes acontecimentos de denúncias à grampos ilegais envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, parlamentares e ministros de Estado repercutiu largamente na imprensa.
Para inibir ações deste tipo, o Governo enviou ao Congresso Nacional proposta que visa endurecer as penas para quem "praticar, vazar e divulgar grampo telefônico ilegal".
Mas a divulgação da notícia, como por exemplo, a denúncia de um crime que foi descoberto através de grampo telefônico e divulgado por terceiros para jornalistas, deve responsabilizar a imprensa? Mas o papel dela não é justamente este, informar a população?
Se um jornalista receber uma denúncia, checar e divulgar esta notícia, também estará praticando crime?
Ora, responsabilizar o jornalista pela divulgação do fato não seria punir o meio e não a origem do problema?
Pára tudo que eu quero descer! A atuação da imprensa na divulgação destas denúncias não deve ser discutida pelo governo e sim pela própria categoria, pois entrará na questão da ética profissional.
A liberdade de imprensa não pode ser tolhida de uma forma tão insensata. A divulgação da notícia por si só, neste caso, não é responsabilidade da imprensa e sim de quem divulgou a informação. O papel da imprensa é promover o debate público, informar, prestar serviço à população. Não é o governo quem deve definir regras para a imprensa ou correremos o risco de voltar à ditatura e suas censuras absurdas.
O projeto começou a tramitar no Congresso nesta sexta-feira. É preciso que ao menos uma vez, os parlamentares tenham bom senso na avaliação desta proposta. Ou muitos crimes deixarão de ser denunciados à sociedade e os verdadeiros responsáveis continuarão impunes.
Raquel Duarte

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Colunistas no Brasil

O jornalismo no Brasil está sendo cada vez mais ocupado por colunas. Nomes famosos do jornalismo brasileiro hoje em dia são, em vez de repórteres e editores, os colunistas que publicam seus nomes e rostosem destaque nas páginas dos jornais. Isto é atribuído, principalmente,às mudanças de novas tecnologias de comunicação, como a internet,que diminuíram a importância de jornais e revista como divulgadores denotícias quentes e aumentaram a função de comentar os fatos. Por vezes, empresários e esportistas especializados num determinadoassunto, tornam-se colunistas escrevendo sobre suas respectivasespecialidades, e mesmo respondendo a perguntas de leitores que têmdúvidas sobre determinado assunto. Este é o caso de Roberto Kuppê, Sergio Castro, o advogado Hamilton Quirino dos Santos e várias outras personalidades. Entre colunistas importantes no Brasil, destacam-se: Informes e notícias: Ancelmo Gois, Ricardo Noblat, Dácio Malta, Arnaldo César, César Faciolli, Barbara Gancia, Renata Lo Prete,Mônica Bergamo Política: Cesar Neto, Ricardo Boechat, Augusto Nunes, Dora Kramer, Teresa Cruvinel, Lúcia Hippólito, Eliane Cantanhêde, Cláudio Humberto, Merval Pereira, Denise Rothenburg, Guilherme Barros, Jorge Bastos Moreno, Lauro Jardim, Clóvis Rossi, Fernando Rodrigues, Josias de Souza], Alon Feuerwerker Economia: Miriam Leitão, Sônia Racy, George Vidor, Sergio Leo, André Jockyman Crônicas: Luís Fernando Veríssimo, Carlos Heitor Cony, Fritz Utzeri, Joaquim Ferreira dos Santos, Jô Soares, Artur Xexéo, Zuenir Ventura, Sérgio Jockymann Coluna social: Hildegard Angel, Heloísa Tolipan, Márcia Peltier, César Giobbi, César Tartaglia, Amaury Jr., Joyce Pascowitch, Fernanda Zaffari, Gilberto Amaral, Karen Kupfer, Lu Lacerda Opinião: Jânio de Freitas, Elio Gaspari, Luiz Garcia, Gilberto Dimenstein, Diogo Mainardi (revista Veja), Hélio Schwarstman O cineasta Arnaldo Jabor é também considerado um colunista de televisão. Dos já falecidos, houve os colunistas sociais Ibrahim Sued, e mais Carlos Castello Branco, Paulo Francis e Nelson Rodrigues.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Repórter não é polícia

Imprensa só responde por informar errado se há abuso

A imprensa não responde por divulgar uma informação errada, mas por abusar do direito de livre manifestação do pensamento, criação, expressão e informação. O entendimento é do desembargador Ênio Santarelli Zualiani, da 4ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo. O desembargador livrou a Band de pagar indenização por danos morais para a Tecplan Escola de Pilotagem.

Em outubro de 2003, o programa Brasil Urgente mostrou, ao vivo, um acidente de helicóptero, no qual morreu o piloto, que era instrutor, e um aluno ficou gravemente ferido. Só que, na hora de informar os telespectadores, o apresentador errou o nome da empresa que estava envolvida no acidente. Disse que o helicóptero pertencia à Tecplan. Na verdade a máquina pertencia à Rangel Escola de Pilotagem.

O erro foi corrigido mais tarde. A Tecplan, que à época estava com as atividades paralisadas, entrou com ação de indenização contra a Band. Disse que o erro do apresentador abalou sua reputação, feriu a honra e a imagem, o que justificava o recebimento da reparação. A Band, para se defender, afirmou que as escolas pertenciam ao mesmo dono, que errou uma única vez e que não haveria dano porque a Tecplan não estava mais no mercado.

A primeira instância não acolheu os argumentos e condenou a emissora a pagar R$ 10 mil. Tanto a Band quanto a Tecplan recorreram ao Tribunal de Justiça Paulista. A primeira para se livrar da condenação; a segunda para aumentar o valor da reparação.

O desembargador Santarelli Zualiani, relator designado, acolheu apenas o recurso da Band. Em seu voto teceu comentários sobre o limite entre o chamado furo de reportagem e o dever do jornalista de apurar a informação. "Imprensa não responde por erro, mas, sim, pelo abuso que comete no exercício de sua função", disse Zualiani.

De acordo com o relator, embora tenha de ser exigido do jornalista rigor e cuidado, não se pode impor a pesquisa da ficha técnica das empresas para saber quem são os donos, ou que tenha de averiguar no setor de aviação competente em nome de quem estava registrada a aeronave.

"Na missão de noticiar os fatos que estão ocorrendo, nem sempre é possível conferência segura dos dados que são transmitidos. O que interessa ao jornalista, no tempo real, é o aproveitamento da notícia, devido ao interesse do público. Somente por uma vez, por má informação, citaram o nome da autora, o que caracteriza uma transgressão secundária e não intencional, sendo incapaz de justificar indenização", afirmou Zualiani.

Ainda segundo o relator, não há de se falar em abalo à reputação da empresa porque o curso de pilotagem envolve público restrito, formado por pessoas que sabem distinguir fatalidade e racionalidade. Para Zualiani, os telespectadores do Brasil Urgente não se enquadram nesse perfil, assim não haveria dano. "A diminuta parcela de indivíduos preocupados com o nome da empresa não seria persuadida pelo único erro da referência que foi cometida", considerou.

Apurar primeiro, noticiar depois

O desembargador Francisco Loureiro, relator do recurso da empresa e da Band, foi voto vencido na sessão. Ele decidiu pelo direito da empresa de pilotagem em receber a indenização por reconhecer que, embora único, houve erro da emissora em noticiar um fato. Segundo Loureiro, o erro, por si só, causa dano moral indenizável "por violar o direito à imagem e bom nome".

"Evidente que não se exige do jornalista o mesmo rigor e aprofundamento no exame das provas que devem ter as autoridades policiais e judiciárias, sob pena de inviabilizar o jornalismo investigativo. Isso, porém, não isenta o jornalista do dever de ser reto e veraz, de checar suas fontes, de apurar a procedência dos fatos, de pesar evidências, evitando a todo custo a divulgação precipitada de fatos delituosos que possam arruinar a vida e a reputação de pessoas indevidamente citadas", observou o desembargador.

"O dever da verdade foi atropelado pela premência do furo jornalístico, pelo sensacionalismo, pela manchete fácil, pela criação do fato a ser depois investigado", reconheceu. "Notícia falsa cria presunção de culpa, ou até mesmo responsabilidade objetiva", afirmou.

Loureiro votou para manter o valor da indenização em R$ 10 mil. A maioria da turma, no entanto, acompanhou Zualiani para livrar a Band de pagar a indenização. As partes ainda podem recorrer.

(Revista Consultor Jurídico, 3 de maio de 2008)

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quarta-feira, 16 de abril de 2008

Jornalismo Investigativo

O jornalismo investigativo é algo que seduz qualquer profissional. Mas não é tão simples, nem tão inofensivo quanto parece. Existe algo de desafiador em fazê-lo, e para ser sincera só o fiz uma única vez, com mérito, na faculdade. Mas vale toda a dedicação e descoberta que só este tipo de reportagem oferece. Não resisti em inserir esta matéria da Folha on line com informações preciosas sobre o assunto: Em "Anatomia da Reportagem", livro editado pela Publifolha, o repórter especial da Folha de S.Paulo, Frederico Vasconcelos, dedica um capítulo inteiro a dar conselhos sobre como apurar e escrever matérias, levando em conta princípios básicos do jornalismo como ouvir todos os lados, manter a isenção e checar com insistência todas as informações.

Veja abaixo uma rica compilação de 28 recomendações úteis reunidas no livro pelo autor sobre como proceder antes, durante e depois de uma investigação jornalística.

As sugestões servem de lição --e "mapa da mina"-- para quem deseja aventurar-se pela arte de praticar a reportagem investigativa com disciplina, rigor e coragem.

A reportagem investigativa não é uma atividade individual, uma iniciativa isolada. Da sugestão da pauta à edição da reportagem há o envolvimento de profissionais de diferentes áreas da empresa jornalística, além da redação. Eles dão o suporte administrativo para pesquisas e material de apoio, além do necessário aconselhamento jurídico.

Uma reportagem bem sucedida requer rigor e disciplina do repórter na obtenção e no trato da informação. Por ser um trabalho de equipe, falhas em procedimentos simples podem significar transtornos que atingem outros profissionais. Para ajudar a evitá-las, faço alguns comentários e listo algumas recomendações úteis:

1. Antes de iniciar uma investigação, esteja certo de que a publicação para a qual trabalha tem interesse no tema e disposição para enfrentar resistências e coibir pressões. Esse cuidado aparentemente óbvio evita frustrações, desentendimentos posteriores com chefias e constrangimentos que poderão ser evitados.

2. É importante que haja compreensão dos riscos envolvidos e que seja assegurada a retaguarda jurídica para garantir ao repórter o exercício tranqüilo de seu trabalho.

3. As reportagens devem ser realizadas com todos os cuidados para se evitar contestações, seja por meio de cartas, de desmentidos oficiais ou em ações de indenização e processos criminais.

4. Processos contra jornalistas podem ser usados para abortar o tratamento de casos rumorosos pela imprensa ou para tentar desqualificar o profissional.

5. Ações de reparação movidas contra empresas jornalísticas têm um custo muito elevado, mesmo antes de eventual indenização. Na prática, esses processos obrigam o jornalista a fazer uma segunda apuração, reportagem que não será publicada. Se os cuidados preliminares não foram tomados, haverá o desconforto da busca de provas que deveriam ter sido obtidas antes da publicação, ou de solicitações incômodas para que revelações e afirmações obtidas off the records, em confiança, sejam repetidas formalmente perante um juiz.

6. Muitas vezes a imprensa "compra" a suposição de que as provas de um crime estão evidentes ou "vende" ao leitor a idéia de que essa comprovação virá na edição seguinte. Não são raras as reportagens a partir de simples depoimentos, sem provas, acenando com a perspectiva de que elas virão tão logo seja quebrado o sigilo dos suspeitos. Investigações preliminares tratadas como condenações públicas definitivas ajudam a alimentar a indústria das indenizações. Uma vez livres de inquéritos mal-instruídos, ou beneficiados por sentenças contraditórias, restará aos acusados "limpar o nome na praça" com ações de danos morais contra os jornalistas.

7. Ao tomar conhecimento de algum fato que mereça investigação, o jornalista deve procurar, antes de sair a campo, levantar todas as informações possíveis sobre o fato. Deve saber os eventuais interesses de quem está sugerindo a reportagem e avaliar se há interesse público no que será investigado. É importante saber a quem a reportagem prejudicará e quem será beneficiado com a divulgação dos fatos.

8. O repórter deve manter saudável distanciamento das fontes. Mesmo que os interesses sejam legítimos, a fonte original não deve exercer influência no processo de apuração e nas conclusões da reportagem. O jornalista não pode depender de uma única fonte. Mesmo confiando plenamente no seu informante, é saudável ouvir a opinião de outras pessoas de confiança. Se possível, obter avaliação neutra sem citar as partes envolvidas.

9. As denúncias devem ser tratadas como material preliminar para a investigação jornalística. Declarações, mesmo gravadas, podem ter efeito limitado. Uma afirmação feita ao jornalista pode não ser sustentada, depois, diante do delegado de um inquérito. Uma afirmação no inquérito pode ser refeita ou negada perante o juiz.

10. É recomendável pesquisar em outras publicações sobre os personagens centrais. Os casos apurados geralmente têm ramificações. Se for uma disputa judicial, é preciso conferir se há processos relacionados ao caso que não tenham sido informados ao jornalista.

11. É possível que chegue às mãos do repórter apenas uma peça de uma disputa mais ampla. Por isso, deve sempre ser feito um levantamento prévio de todos os envolvidos, consultando-se outros casos em que atuam os advogados das partes. Essa é uma forma de encontrar novas fontes, novos caminhos para uma matéria cuja apuração às vezes não avança.

12. O repórter deve pedir comprovantes e cópias de documentos. É útil guardar tudo que não puder publicar. Sempre que possível, ter documentos na mão. Quando for recebido um documento por fax, tirar fotocópia e guardá-la. A cópia por fax costuma ficar ilegível.

13. Antes de começar uma entrevista, deve-se deixar bem claro o objetivo da reportagem. O entrevistado deve ter o tempo que for preciso para pensar, para voltar atrás, refazer suas respostas. É um direito seu.

14. Sempre se deve terminar uma entrevista perguntando ao entrevistado se ele gostaria de acrescentar alguma coisa que não tenha sido questionada pelo repórter.

15. Deve-se pedir ao entrevistado que diga claramente qual o ponto que considera mais importante a ser ressaltado ou a afirmação que julgue mais relevante. É a opinião dele que deve prevalecer.

16. O jornalista deve guardar as fitas de gravações e sempre pedir permissão para gravar. A recusa à gravação pode ser um indicador da firmeza, ou não, de sua fonte ou de seu entrevistado. Costumo perguntar se a fonte ou o entrevistado sustentaria em juízo a informação ou opinião que me está passando. A reação ajudará a sopesar os fatos.

17. O repórter deve prestar muita atenção às datas. As contradições às vezes surgem na análise de detalhes. Recomenda-se ler e reler o material levantado, mesmo depois de publicada a primeira reportagem.

18. É importante trabalhar de forma organizada, registrando horário e datas de telefonemas e entrevistas. Considerando a possibilidade de processos futuros, é essencial poder comprovar as várias iniciativas tomadas para ouvir a parte contrária antes da publicação da reportagem.

19. As melhores reportagens são as mais equilibradas. A não ser nos casos em que essa prática impeça a apuração, quanto mais cedo o jornalista procurar o "outro lado", mais amplo será o contraditório. Se a reportagem é relevante e exclusiva, o repórter deve permitir à parte acusada tempo suficiente para levantar informações, documentos. Esse cuidado servirá também para mostrar que o jornalista agiu de boa fé, dado essencial se houver um processo.

20. Se não conseguir ouvir a parte contrária, o jornalista deve procurar os advogados dos acusados. Se não tiver êxito, é prudente procurar manifestações anteriores em favor dos acusados ou a opinião de amigos dos acusados.

21. Ao redigir o texto, não se deve fazer acusações. É importante consultar especialistas, que poderão emitir pareceres. Deve ser pedida avaliação a mais de um profissional. É conveniente evitar adjetivos.

22. O repórter só deve escrever quando tiver total conhecimento sobre os fatos a serem reportados. Havendo dúvidas, deverá voltar a consultar as fontes.

23. É recomendável consultar advogados para identificar pontos vulneráveis no texto. Expressões e formas de relatar os fatos podem ser substituídas no texto sem comprometer a reportagem.

24. Uma segunda leitura, feita por um colega da redação, sempre pode ajudar o repórter a tornar o texto mais claro e a eliminar duplas interpretações.

25. O repórter deve ajudar o seu editor, entregando o texto com sugestões de títulos, subtítulos e legendas de fotos. Muitas vezes os processos são movidos por causa de pequenos descuidos em títulos, artes ou em quadros explicativos.

26. O jornalista deve procurar ouvir a parte atingida tão logo a reportagem seja publicada. Além de demonstração de zelo, boa-fé e disposição para retificações, essa iniciativa pode manter a exclusividade na retomada do assunto. Se os procedimentos foram corretos na fase anterior, o acusado vai preferir que a sua versão esteja no dia seguinte na mesma publicação.

27. Deve-se sempre manter a isenção, deixar claro que o trabalho é impessoal. Quanto mais espaço para garantir o contraditório, menor a possibilidade de a reportagem vir a ser interpretada como perseguição.

28. Finalmente, deve-se estabelecer como meta realizar reportagens tão bem apuradas e equilibradas que desestimulem desmentidos, no dia seguinte, ou ações judiciais no futuro. Se, depois desses cuidados todos, ficar comprovado o erro, o jornalista deve admitir o fato com naturalidade e honestidade e assumir sua responsabilidade.

sábado, 5 de abril de 2008

Desbravadora de mim

Quase um soluço, um susto, uma vertigem. A possibilidade de encarar o novo e desmistificar velhos conceitos. Foi assim que encarei, o novo desafio como uma sina, mesmo com passos trôpegos, incertos. A melhor escolha era uma incógnita. Dentre as várias opções, meu coração era quem ordenava. Naquele dia, o relógio jogava contra e o calor, o dia pelo meio, o cabelo emaranhado de um castanho indefinido, enfim tudo parecia dizer não. Mas não quis ouvir. Eu só sentia. Dentro de mim só ouvia um sim de um palpitar infinito. Antes do encontro, parei. Eu imaginei que sabia tantas coisas. Que era quase suficiente. Ri de mim mesma nesta hora... Mas fui rastejando no meu orgulho terminal, quase nua, tão a fim e tão afã como um andarilho que encontra seu oásis, sem poder definir ao certo se aquilo era real ou não. Com esta decisão, sabia que, de certa forma, o caminho era único, sabia que teria que abandonar velhos hábitos e vícios...as linguagens que desaprendi e pelos erros que me deixei contagiar. Ponderei por um momento sobre a renúncia de uma pseudo liberdade, dos meus dias de verão e de um sedutor ócio, que acreditava, certa época, ser a salvação de dias tristes. Quanta besteira pode-se pensar em apenas milésimos de segundos, enquanto os meus colares coloridos e descolados, refletiam o sorriso exausto, de dias arrastados e anseios sem fim. Mas havia algo de desafio nisto tudo, do desconhecido, das tantas formas das palavras e suas armadilhas. Foi então que percebi a exatidão das horas e uma certa beleza em mim que encantava. Tudo foi harmônico, meus gestos, o movimento e as palavras que corriam pela atmosfera com a suavidade do vento. Eu era o equilíbrio em pessoa e uma leveza esquisita, aquela sensação de um beijo recebido como uma lembrança, com carinho e surpresa, e a intimidade de uma vivência passada. De novo mais tolices. E risos. Brincando com meu dia. Jamais aguardei tanto um telefonema depois de um encontro...era como quem espera o retorno de uma aposta. Ou um prêmio, que assusta e instiga simultaneamente, E o telefone tocou. (silêncio, sorriso) Desculpe tenho que atender agora... (sobre a conquista e o desafio de um novo emprego)