Por Raquel Duarte
“Um jornalista desempregado, um homem abandonado pela mulher. Um
ser humano em ruínas, que busca sua reconstrução. Até pouco tempo atrás, nada o
motivava. Sua vida era tão alegre e vibrante quanto à dos protagonistas de
filmes iranianos. Mas sem competência para o suicídio e sem dinheiro para fazer
terapia, resolveu buscar sua redenção neste blog cheio de humor. Aqui, você vai
encontrar um pouco do lado B do jornalismo e (por que não?) da vida também”,
assim é a descrição de Duda Rangel em seu blog “Desilusões perdidas”, pontuado bom
humor em relação ao jornalismo.
Atrasado ele surge na porta de um
barzinho na Vila Madalena,SP, onde combinamos a entrevista. Aceno para ele, que
me localiza com o olhar e oferta um largo sorriso. Tem pouco mais de 40 anos,
ligeiramente grisalho e exibe uma simpática barriga de chope, aliás, bebida que
ele sugere que eu pague. Faço o pedido ao garçon e antes de ligar o gravador
conversamos um pouco. Depois de olhar longamente para minhas pernas ele dispara
: você é casada? Aceno com a cabeça positivamente e ele diz “Ah, sim,
sim...claro...” e fica sem graça. Ao beber o chope quase num único gole, ele diz
que mora em São Paulo e sua companhia predileta é seu cão boxer Nestor. Ressalta
que adora o lado cultural da cidade, adora ir ao cinema e teatro, mas que procura
ir a lugares baratinhos, “evitando, porém, aqueles ciclos de filmes poloneses
gratuitos, porque são muito chatos”. Entre muitos risos, começamos a seguinte entrevista:
Como é seu relacionamento com a ex, ainda tenta a
reconciliação?
Minha ex é caso encerrado, sem volta. Mas ainda temos contato por
causa da guarda judicial do nosso cão, o Nestor. Ele mora com a mãe, mas passa
fins de semana comigo, a cada 15 dias. No início ele sofreu muito com a
separação, mas hoje leva na boa.
Tem algum vício? Qual?
Tenho o vício de dizer que não tenho vícios.
O que gosta de fazer nas horas de lazer?
Gosto muito de caminhar pelo centro de São Paulo, pegar metrô,
ver gente, ver gente esquisita. Parar para comer uma porcaria qualquer numa
porcaria de lugar qualquer.
Que viagem te marcou?
A viagem mais marcante foi trabalhar 48 horas seguidas, sem dormir.
Muito louca esta experiência. Recomendo aos focas mais caretas.
Experimentou ou usa drogas? Conte-nos.
A droga mais pesada que usei até hoje foi mesmo o jornalismo. Isso
é pior que crack. Vício danado. O pior (ou melhor) é que eu não consigo largar.
Como é sua rotina?
Uma boa coisa de ser jornalista é não ter uma rotina certinha.
Tento viver cada dia de forma diferente.
Como foi seu ingresso no jornalismo?
Acho que ingressei no jornalismo ainda moleque, quando apresentava
“retrospectivas de fim de ano” para a minha família. Eu compilava as notícias
do ano todo e fazia meu programa, mambembe, num canto da sala. Usava um terno
do meu pai emprestado, que ficava gigante em mim. A família, toda reunida para
prestigiar o evento jornalístico, fingia que gostava, fingia que eu tinha jeito
para coisa, e eu acabei acreditando nisso. Minha paixão vem daí. Sempre gostei
de escrever também.
Em que locais já trabalhou?
Prefiro não citar os nomes dos locais por onde passei. Vai que
eles resolvem me processar. Minha carreira foi toda focada no jornalismo
impresso diário, o hard news, onde o bicho pega para valer.
Quais as editorias que passou? Em quais funções?
Trabalhei em várias editorias, Geral, Esportes, Política,
Economia. Fiz um pouco de tudo nessa vida.
Qual foi seu maior furo jornalístico?
O maior furo é sempre aquele que você ainda não deu. É uma espécie
de Santo Graal. Você passa vida inteira procurando.
E maior mico?
Mico grande é desconhecer ou trocar o nome do entrevistado.
Constrangedor. Já rolou isso comigo algumas vezes.
Quais suas fontes para se aperfeiçoar na área?
Sempre fui um cara curioso. Aprendo muita coisa lendo, fuçando. De
línguas a novas tecnologias. É a minha melhor escola.
Quais jornalistas admira?
Não tenho heróis, nem ídolos no jornalismo. Quem precisa de herói
é filme americano. Admiro muitos jornalistas comuns que cruzaram meu caminho,
gente simples com paixão pela coisa, gente interessada e interessante. Esse
povo que se dedica, que busca melhorar sempre, eu admiro muito.
Se não fosse jornalista, o que seria?
Eu tinha um projeto de ser garoto de programa, mas depois eu vi o
tamanho da barriga de chope que herdei do jornalismo e caí na real. Morreria de
fome. Não consigo me imaginar fazendo outra coisa além de ser jornalista. É o
que sempre digo: “jornalismo é algo que está no nosso sangue, tipo colesterol
ruim”.
Já conseguiu emprego?
Desde que perdi meu emprego, tenho feito muitos frilas. Sempre
pinta coisa para escrever. Esta é uma realidade de muitos jornalistas hoje. O
blog me consome bastante também.
Já pensou em contar usa história num livro?
As minhas histórias e desventuras contadas no blog vão ganhar uma
adaptação para um livro. Ele está quase pronto. Minha ideia é fazer o
lançamento em São Paulo no início de outubro.
Para conhecer mais sobre Duda Rangel acesse: http://desilusoesperdidas.blogspot.com.br/