por Raquel Duarte
Nos dias 16 e 17 de outubro foi realizada a 1a. Conferência Municipal de Comunicação de Osasco. O evento realizado no auditório da Unifieo foi organizado pela prefeitura municipal com o objetivo de promover discussões sobre os gargalos da comunicação. Após o debate que acontece simultaneamente em mais de 40 municípios, a Conferência passará para a esfera estadual e finalmente federal, que ocorrerá que nos dias 14 e 17 de dezembro em Brasília.
Na abertura da Conferência participaram os jornalistas Pedro Pomar (editor da Revista Adusp), e Luiz Carlos Azenha (correspondente internacional), o chefe de gabinete da prefeitura de Osasco, Luciano Lub, o reitor da Unifieo, Dr. José de Castro Soares Hungria e o prefeito Emidio de Sousa. “Esta conferência visa lançar luz sobre este tema tão importante que é a comunicação. A democracia é falada em muitos círculos, mas espero que seja compreendida e absorvida como elemento fundamental da comunicação no Brasil”, disse Emidio.
TEMAS
A Conferência apresentou três enfoques para debate. No primeiro bloco o tema foi “Produção de Conteúdo nos Meios de Comunicação Brasileiros” com o jornalista Eduardo Maretti (editor da Revista Fórum e diretor de redação do Jornal Visão Oeste) e o cientista político e professor da FGV e PUC, Franscisco Fonseca. O jornalista Altamiro Borges autor do livro “A ditadura da mídia” que estava programado para compor a Mesa não compareceu ao evento por problemas de agenda.
No segundo bloco foi apresentado o tema “Meios de Distribuição” com a presença do vereador e jornalista José Américo (ex Diário do Comércio e Folha de S. Paulo), Jornalista Marcelo Parada (Rádio Jovem Pam, Rádio Bandeirantes), jornalista Alberto Luchetti (Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo, Rede Globo). O bloco teve mediação da diretora de Comunicação da Prefeitura de Osasco, Emília Cordeiro.
No último bloco foi apresentado o tema “Cidadania: Direitos e Deveres” com o jornalista e diretor da Secretaria de Cultura Ricardo Dias, o deputado federal João Paulo Cunha e representante da entidade Intervozes, que representa a sociedade civil na Comissão organizadora da Conferência Nacional de Comunicação. O encerramento foi realizado pelo sociólogo Dênio Rodrigues.
DISCUSSÕES
A Conferência debateu a comunicação como a definição de “um direito humano” e criticou a concentração da mídia e poder, apontando o perigo social que representa os grandes conglomerados da comunicação e da propriedade cruzada (em que uma empresa de comunicação atua em várias segmentos).
Para o cientista Político, Franscico Fonseca “É primordial o combate ao monopólio se quisermos a democratização na comunicação no país”. De acordo o professor Fonseca, o processo de discussão e mobilização é muito rico e poderá apontar fundamentos para acabar com o fim do ‘aparthaid social”, “São 16 milhões de pessoas analfabetas e 15 milhões de analfabetos funcionais no país. Portanto, o desafio é grande e a luta só está começando”, destacou Fonseca.
Para o jornalista Luiz Carlos Azenha estamos diante de um momento histórico . “Esse momento tem a ver com o fato que passamos a ocupar um papel social diferente por causa da tecnologia da informação”. Azenha reforçou a preocupação com os gargalos da monopolização dos meios de comunicação e criticou a “midiatização” da sociedade. “As grandes empresas de comunicação lidam com a informação de acordo com seus interesses e a sociedade é a principal vítima”.
VERBAS DE PUBLICIDADE
Outro ponto discutido na palestra foram os critérios de mercado para a destinação das verbas de publicidade, hoje sendo direcionadas de acordo com os números da audiência ou de circulação, alimentando o círculo vicioso de investimentos nas grandes (e mesmas ) empresas de comunicação e reforçando o monopólio.
O jornalista Albeto Luchetti criticou com muito humor, o que chamou de “trapalhadas” das grandes emissoras como TV Globo e Bandeirantes que deixaram suas empresas nas mãos de herdeiros, segundo ele “incompetentes e imbecis”. Luchetti também destacou a competição desigual de verbas de publicidade com as grandes empresas de Comunicação.
“As grandes emissoras, por exemplo, oferecem uma bonificação de valores para as agências de publicidade e fecham programação para longos períodos porque tem como investir. É fundamental que exista uma fiscalização efetiva da sociedade civil para que a democratização seja possível”, defendeu Luchetti.
PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
O jornalista Eduardo Maretti abordou o tratamento da informação no caso do Golpe da Venezuela (ocorrido em 11 de abril de 2001) e citou outros exemplos midiáticos. Criticou duramente a homogeneização e manipulação da informação nos diversos veículos brasileiros e suas consequências para a sociedade.“ A mídia não é democrática porque não existe [pontos] contraditórios nela. Não há diferença na divulgação de informações e quando existem, estão ligadas aos interesses econômicos de quem divulga”, apontou.
Maretti defendeu a produção da Mídia Livre e a valorização de projetos independentes com premiações que possibilitem a continuidade destes trabalhos.
Principais sugestões apontadas na conferência:
- Democratizar a participação da sociedade civil nos meios de comunicação
- Estabelecer critérios de fiscalização (realizada pela sociedade civil) para o conteúdo das Mídias
-Estimular o acesso aos meios de informação (como a disseminação do acesso à internet)
- Acabar com o oligopólio midiático – estabelecendo-se mecanismos progressivos de desconcentração do poder
- Democratizar verbas publicitárias – estabelecendo que nenhum veículo concentre mais que uma porcentagem X dos investimentos publicitários
- Criar linhas de créditos bancário (como as do BNDES) para investimento em meios de comunicação alternativos, pluralizando os meios de comunicação
- Implantar ouvidor independente nas mídias
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